É possível descontaminar a área onde foi construído o Condomínio Barão de Mauá, no Parque São Vicente, em Mauá, sem a necessidade de derrubar os prédios. A afirmação é do arquiteto urbanista Luis Sergio Ozorio Valentim, da Divisão de Ambiente do Centro de Vigilância Sanitária do Estado.
Para ele, descontaminar e reaproveitar áreas vazias que um dia foram ocupadas por indústrias, desde as primeiras décadas do século XX, é uma necessidade para os grandes centros urbanos que já não possuem espaços disponíveis. No entanto, os custos ainda são altos e poucas empresas dominam as técnicas de descontaminação.
Até novembro de 2009, existiam 2.904 áreas contaminadas em todo o Estado, segundo relação atualizada anualmente pela Cetesb (Agência Ambiental Paulista (Cetesb). O número é 13% maior em relação à lista do ano anterior. Segundo a agência ambiental, 929 foram descontaminadas e, destas, 110 já podem ser reaproveitadas.
"O desafio está em olhar para esses espaços e saber reaproveitá-los para evitar a expansão em áreas ainda não desmatadas ao redor das cidades. Há casos que já foi indicada a remoção de moradores para descontaminação, como da Favela Paraguai, na margem do Rio Tamanduateí. Não sei se é o caso do Barão. Mas demolir 53 prédios será muito mais prejudicial ao ambiente do que mantê-los e fazer descontaminação do solo", explicou Valentim, lembrando que já vem sendo feita extração de gases no local, com monitoramento da Cetesb.
QUALIDADE DE VIDA
Valentim, que tem trabalho de doutorado sobre riscos à saúde em áreas contaminadas da região metropolitana de São Paulo, ressaltou que os males causados à população que convivem com essas áreas não são somente relacionados à saúde. "Os danos concretos estão mais ligados à qualidade de vida dessas pessoas. Em primeiro lugar do ponto de vista econômico, com desvalorização do imóvel que afeta diretamente a posição social do indivíduo. Depois, vem a questão do bem estar no local. Como se sentem essas pessoas que vivem sobre um local que um dia foi um lixão?", ponderou o arquiteto.
Já o geólogo Ivo Karmann, do Instituto de Geociências da USP (Universidade de São Paulo), não aconselha a ocupação de solos contaminados por indústrias, já que a descontaminação ainda não é uma prática comum e difundida no País. "Se pudermos evitar a ocupação desses lugares, melhor. Além dos problemas sociais, não conhecemos os efeitos reais sobre a saúde", disse.
Deborah Moreira
Fonte: Diário do Grande ABC, 5/10
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