sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Perus viu essa história antes...



A Província de Nápoles, no sul da Itália, enfrenta nos últimos dias violentos confrontos entre agentes de segurança e manifestantes que não se conformam com uma decisão do governo de inaugurar um novo lixão no Parque Nacional do Vesúvio. Até ontem, quando centenas de pessoas enfrentaram policiais, vários caminhões de lixo, um carro de polícia e um ônibus acabaram incendiados. Cinco pessoas foram presas.

Hoje, o Conselho de Ministros da Itália deve fazer uma reunião de emergência para discutir a situação. Além dos confrontos, a principal consequência do impasse é o acúmulo de lixo nas ruas de Nápoles, já que a circulação dos caminhões está prejudicada.

Os confrontos ocorreram principalmente na entrada do aterro sanitário da cidade de Terzigno, onde os manifestantes vêm tentando impedir os caminhões de despejar lixo, e na vizinha Boscoreale, onde um grupo destruiu vitrines de várias lojas e apedrejou carros de polícia que escoltavam os caminhões de lixo ontem. Várias pessoas ficaram feridas, no entanto, não havia números oficiais a respeito. A polícia respondeu aos ataques com bombas de gás lacrimogêneo.

O anúncio da construção do aterro sanitário Cava Vitiello serviu como estopim da revolta. E a população de Terzigno passou a exigir o fechamento do lixão inaugurado em 2009. O movimento é chamado de "Intifada do Vesúvio" e "Revolta das mães vulcânicas". Diante do depósito da cidade, atualmente um dos únicos em atividade na província, vêm ocorrendo os principais protestos, nos quais mulheres e crianças tentam impedir a passagem dos caminhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Matarazzo dará lugar à escola ecológica




São Caetano planeja construir uma escola ecológica na área que pertenceu às antigas Indústrias Reunidas Matarazzo, no bairro Fundação

As ruínas começaram a ser demolidas ontem, e a expectativa é de que os trabalhos sejam concluídos em dois meses. 

Para erguer qualquer tipo de edificação ou utilizar prédios restaurados, a Prefeitura, no entanto, precisa de autorização da Cetesb (Companhia Ambiental de São Paulo), que estuda o nível de contaminação do solo.

A iniciativa está sendo estudada em conjunto com o projeto do Parque Matarazzo, que pode ser erguido sobre o terreno de 18 mil metros quadrados.
Para a implementar a escola de educação ambiental, a Prefeitura pretende preservar parte do prédio. O local também vai servir de memória aos 55 anos de atuação da Matarazzo no bairro. 
"Em parte do prédio vamos investir na restauração. Algumas paredes isoladas também vão permanecer intactas, para contar um pouco da história do Fundação", explicou o prefeito, José Auricchio Júnior, referindo-se ao bairro onde acontece a tradicional Festa Italiana.
A vencedora da licitação foi a empresa ABC Demolidora, que ao preço aproximado de R$ 400 mil vai destruir paredes e colunas da antiga indústria química e reincorporar os escombros ao solo.
O processo, de acordo com o secretário de Obras, Julio Marcucci, é considerado ambientalmente sustentável. Todo o escombro será processado no local, de tal forma que seja possível ser misturado à terra. "É uma ação pioneira na região. A empresa vai garantir que não seja necessário enviar resíduos de construção a aterros sanitários."

Todo o processo será filmado pela equipe da Prefeitura. A demolição sustentável será uma das primeiras atividades educativas que será apresentada aos alunos da nova escola.

A Cetesb permitiu o desmonte das estruturas em março deste ano. O processo recebeu o aval após a constatação de que as paredes das antigas industrias não possuem agentes químicos nocivos à saúde.

MEMÓRIA
 
O novo parque é aguardado desde 2005 por moradores do bairro, principalmente os mais antigos. A população reclama da falta de atenção da Prefeitura ao bairro tradicional, que é separado do restante da cidade pela linha férrea da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
A atendente de cobrança Maria Emilia Testaferrata, 50 anos, cresceu no Fundação e gostou da novidade. Ela reivindica mais opções de lazer na vizinhança. "Quando quero fazer caminhada, vou para a Guido Aliberti, que tem calçada longa e livre", falou.
As Indústrias Reunidas Matarazzo, que fecharam as portas por volta de 1980, faz parte da memória de dona Ana Cassano de Agozio, 76. "Naquela época, os funcionários movimentavam o bairro e existiam muitos mercados e locais para lazer. Hoje estamos um pouco esquecidos", comentou.

Agência avalia estudo de solo encomendado por incorporadora
 A Cetesb informou que recebeu neste semestre estudo sobre toda a área que foi ocupada pelas Indústrias Reunidas Matarazzo, em São Caetano. O levantamento foi feito por uma incorporadora, que detém porção do terreno. A companhia não soube informar quando a análise do laudo deve ser concluída.

Desde 1932, quando se instalou no município, a Matarazzo produziu o pesticida BHC. O uso do químico foi proibido em 1994 no Brasil.

Quando encerrou suas atividades, a indústria passou por processo de desapropriação amigável: os 18 mil metros quadrados foram cedidos à Prefeitura. Hoje, apenas parte da área está nas mãos da empresa. Outro terreno foi adquirido por uma incorporadora, que solicita junto à Cetesb a construção de edificações (a finalidade não foi especificada pela companhia ambiental). "Com o parecer técnico será possível definir o uso dessas áreas ou a necessidade de sua recuperação", informou o órgão estadual.
O parque pleiteado pela Prefeitura será a primeira área de lazer do bairro Fundação. O projeto prevê áreas verdes, pista para caminhada, parques infantis além da escola ecológica. O croqui será apresentado à Cetesb após a demolição das ruínas da Matarazzo.

Fonte: Jornal Diário do Grande ABC- Setecidades- 19/10

  O Observatório Social, mesmo acreditando no laudo que não há contamimantes nessa área, ficará DE OLHO nela!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Mais uma fatura, SUS?





Diz o ditado que entre os males, que seja o menor. Em Paulínia, interior de São Paulo, a administração local pretende transformar o antigo galpão de estrutura metálica onde funcionou a Fundação de Pesquisas e Estudos Sociais e Políticas Públicas, em creche. Boa proposta. Inovam os comandantes de Paulínia. São inúmeros os casos de reutilização de galpões para novos fins.

Um exemplo é o galpão do futuro Poupa Tempo do bairro da Lapa, em São Paulo. Área remanescente da indústria terá enorme valia para os moradores da região oeste paulistana. Só não perguntem a este Observatório se houve investigação preliminar do solo local...

Mas voltando ao caso de Paulínia, a Fundação operou até 2006. Durante este período, foram armazenados no galpão as temíveis bifelinas policloradas. Popularmente conhecidas como Ascarel, ou, óleo elétrico. Composto volátil, as bifelinas policloradas promovem ruptura da Tireóide, além de risco de neoplasias quando inaladas.

A feliz idéia de barrar tal pretenso ato de depositar crianças em ambiente tão insalubre, foi do Ministério Público Estadual após consultar nossos queridos amigos da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo sobre o local.

O local é de fácil acesso, assim como a possibilidade de contaminação. No local estão armazenadas as carteiras e cadeiras da pretendida creche. Não há avaliação sobre contaminação deste material. Há possibilidade de ser despachado às associações comunitárias.

A lógica desta história é simples. O resíduo tóxico vem dos transformadores do setor privado - antiga fábrica da CBI/LIX – e depositados em espaço público. Quem pagará a conta?
O Sistema Único de Saúde está calejado com esta lógica. Resta saber se o erário de Paulínia está com tamanha disposição. Neste episódio, dos males certamente será o maior.

Edson Domingues

domingo, 17 de outubro de 2010

Entrevistando Luís Sérgio O. Valentim

                                           Vista de SP- 1930

O Observatório Social " De olho no solo" fez um entrevista escrita com o Arquiteto Luís Sérgio Ozório Valentim, pesquisador da Faculdade  de Arquitetura e Urbanismo - FAU da USP.

Luís Sérgio realizou um levantamento para FAU, apontando a relação entre os eixos históricos de industrialização da Região Metropolitana de São Paulo, a produção de impactos ambientais e a identificação de cenários de risco à saúde da população.

Autor do livro Requalificação urbana, contaminação do solo e riscos à saúde” 
Annablume/FAPESP, 2007








  Leia agora a entrevista feita pelo Observatório Social

Observatório: Fale um pouco sobre sua atividade profissional, sua formação e sobre sua dissertação de Mestrado.
    Luís Sérgio: Formei-me em arquitetura, com especialização em gestão ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da USP e doutorado em Planejamento Urbano e Regional pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
    Sou diretor de Meio Ambiente do Centro de Vigilância Sanitária e represento a Secretaria de Estado da Saúde, dentre outros, nos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente (Consema) e de Recursos Hídricos (CRH).
    Sou autor do livro “Requalificação urbana, contaminação do solo e riscos à saúde” (Annablume/FAPESP, 2007) e minha pesquisa de doutorado teve por título “Sobre a produção de bens e males nas cidades: estrutura urbana e cenários de risco a saúde em áreas contaminadas na Região Metropolitana de São Paulo”. Trato, em síntese, da natureza estruturalmente desequilibrada das metrópoles e da conseqüente formação de cenários de risco à saúde, tidos como um conjunto de fatores determinantes da saúde considerados a partir de suas localizações e interações. Quem tiver interesse, pode acessá-la no endereço www.teses.usp.br.
    Minhas pesquisas almejam, essencialmente, colaborar para a integração de políticas públicas de saúde, meio ambiente e desenvolvimento urbano.

    Observatório: Qual a região mais crítica, quando se fala em área contaminada em São Paulo?

    Luís Sérgio: As contaminações do solo estão associadas àqueles territórios onde o modelo de desenvolvimento de bases urbanas e industriais se expressou com maior desenvoltura.
     A Região Metropolitana de São Paulo é onde as consequencias desse modelo se mostram mais agudas, concentrando cerca de metade das 2094 áreas atualmente cadastradas como contaminadas no estado.
    Porém, a mancha urbana metropolitana não é homogênea. Apesar dos postos de combustíveis, que representam quase 80% das áreas contaminadas até o momento cadastradas, estarem distribuídos com certa uniformidade nas áreas urbanizadas da RMSP, podemos considerar que a contaminação do solo ocorreu mais intensamente nos eixos radiais historicamente associados à ocupação industrial e à estruturação metropolitana.
    Na pesquisa, eu identifico na metrópole nove eixos mais significativos e outras três zonas setorizadas de industrialização. Entendo que os eixos mais críticos, que encerram maior carga simbólica e que mais representam os dramáticos processos de reestruturação produtiva que ocorrem hoje na RMSP sejam os que denominei na tese como Centro daCapital/Ferrovia Santos-Jundiaí/ABCCentro da Capital/Ferrovias Santos-Jundiaí e Sorocabana/Rodovia Castelo Branco/Osasco. Eles formam um arco envolvendo os rios Tietê e Tamanduateí, com extremidades apontando para os municípios de São Caetano do Sul e Osasco.

      Observatório: Qual sua visão sobre a requalificação de remanescentes do parque fabril paulistano para fins de moradia considerando o exemplo do Condomínio barão de Mauá?

        Luís Sérgio: O Condomínio Barão de Mauá – um conjunto residencial com mais de 50 prédios assentados diretamente em lote antes usado como lixão industrial – é um daqueles momentos infelizes – e exemplares – da nossa história urbana e industrial. Atualmente é pouco provável que um caso como este se repita com tamanha facilidade, pois ao longo destes últimos anos aprimoramos os mecanismos legais e institucionais para evitá-lo.
        A requalificação urbana de áreas com contaminação do solo é outra história. Parte de um conhecimento prévio da situação de contaminação do território é da consciência da importância para a sociedade de pleno uso – social e ambientalmente aceitável – das áreas urbanas.
        Não podemos nos dar ao luxo de desprezar as regiões com histórico de industrialização por tê-las como contaminadas, sob pena de espraiarmos ainda mais a cidade. Muitas dessas áreas são atualmente pouco atraentes pela inviabilidade econômica de remediá-las para um novo uso. Cabem, nesse caso, políticas públicas mais incisivas de desenvolvimento urbano e de regulação de riscos, que induzam requalificações.

        Observatório: Qual o papel da sociedade civil no acompanhamento de manchas contaminadas em São Paulo?
          Luís Sérgio: Só num contexto de plena liberdade, num estado democrático de direito, é que podemos realmente enfrentar as mazelas derivadas de um modelo de produção e consumo historicamente descompromissado com o ambiente. Esse enfrentamento é coletivo e não circunscrito ao poder público. Assim posto, a sociedade civil em geral tem papel importante no tocante às áreas contaminadas.
          Para que a participação social não se circunscreva à indignação exasperada e ao mero denuncismo, é importante fomentar o debate, garantir transparência às políticas públicas e investir em comunicação de riscos.  
          Observatório: Qual sua opinião sobre a operação urbana Lapa – Brás?

          Luís Sérgio: As operações urbanas Lapa/Brás e Mooca/Vila Carioca praticamente coincidem com o arco histórico de industrialização – nas várzeas dos rios Tiete e Tamanduateí – que mencionei anteriormente. Quem se dedica a analisar os processos de contaminação e reestruturação urbana da metrópole tinha expectativas de que fossem promovidas políticas públicas nesse sentido. O Plano Diretor Estratégico do município, de 2002, fundamentou tais políticas e estendeu o olhar, ainda que timidamente, para os passivos ambientais que então emergiam na forma de áreas contaminadas. As operações urbanas são bem vindas, pois anunciam a abordagem das áreas contaminadas a partir de sua inserção no tecido urbano, superando – espero eu – o entendimento desses passivos apenas como frações isoladas e fragmen tadas do território, sujeitas a políticas públicas setorizadas.
            A região – varzeana, de beira-linha – abrangida por essas operações urbanas conta muito da história da cidade. A Vila Carioca – assentada às várzeas do Tamanduateí, no bairro do Ipiranga – foi tema de meu livro sobre requalificação urbana, contaminação do solo e riscos à saúde. Ela esta assentada num território cuja história representa muito bem certo modelo de industrialização e expansão urbana, cujos primórdios datam de mais de século e cujas mazelas passamos a melhor conhecer recentemente.  

            (15/10/10)

             Nós responsáveis pelo Observatório Social " De olho no solo" agradecemos ao Luís Sérgio pela participação em nosso blog, através desta entrevista.
             Parabéns pelo ótimo trabalho Luis Sérgio!
            Érica Sena