segunda-feira, 14 de março de 2011

Fantasmas de Tchernobil



Agências fazem tours pela zona de exclusão da usina que explodiu em 1986, onde hoje há as ruínas de uma cidade , pássaros, mamíferos e muito mato 

AIURI REBELLO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A explosão na usina nuclear japonesa de Fukushima faz o mundo reviver medos de um acidente nuclear de grandes proporções.
Quase 25 anos depois, a Ucrânia ainda convive com as consequências do pior desastre nuclear da história: a explosão do reator número 4 da usina nuclear de Tchernobil, em 26 de abril de 1986. A reportagem visitou o local em junho de 2010.
Grandes áreas de países vizinhos, como Belarus (antiga Bielorrússia), foram afetadas, e a nuvem radioativa se espalhou por toda a Europa. O acidente resultou em um bolsão radioativo em um raio de cerca de 30 km ao redor do epicentro da explosão.
A zona de exclusão formada pela radiação existe até hoje, controlada pelo Exército. O local ficou fechado até 2002, quando agências de turismo passaram a organizar tours com a autorização do governo ucraniano e a supervisão do Exército.
Os visitantes desembolsam cerca de US$ 150 para visitar o local. Na agência Solo East Travel (www.tour kiev.com), o valor dá direito a transporte de van do centro de Kiev até a zona de exclusão, almoço com comida regional e um guia que fala inglês. Brasileiros precisam de visto para entrar no país.
A Ucrânia e as agências de turismo não se responsabilizam pela saúde de quem resolve entrar na área.
Ali, além dos visitantes de um dia, só são permitidos soldados, cientistas e pessoas que trabalham na conservação dos outros reatores da usina ainda repletos de combustível nuclear e do sarcófago de concreto e chumbo, construído ao redor dos escombros do reator 4.
Uma nova catacumba, financiada pela União Europeia, deve começar a ser construída até 2012 a um custo superior a 1 bilhão.
Vilarejos rurais, em áreas de menor radioatividade, vêm sendo reocupados por antigos moradores.
Segundo relatório da AIEA, a agência de energia atômica da ONU, ao menos 47 pessoas morreram devido à exposição à radiação e ao menos 4.000 pessoas tiveram ou terão algum tipo de câncer causado pela tragédia -são números conservadores: pesquisas paralelas estimam milhares de mortes.
De Kiev, são 100 km até a fronteira do bolsão radioativo, a nordeste da capital. As cidades de Tchernobil e Pripyat -onde vivia a maioria dos trabalhadores do complexo atômico- foram completamente evacuadas.
Mais de 100 mil pessoas tiveram de abandonar a região para nunca mais voltar.
Os 45 mil habitantes de Pripyat só foram tirados da cidade, a poucos quilômetros da usina nuclear, mais de 30 horas depois do acidente. O governo soviético escondeu o desastre por dias.
Ao contrário do esperado, o verde floresce por todos os lados. É comum avistar pássaros e mamíferos. Apenas as ruínas da cidade-fantasma de Pripyat e a ausência de pessoas lembram que o lugar foi condenado.
Ali dentro, há tanto bolsões de altíssima radioatividade como grandes áreas onde os níveis de contaminação são próximos dos normais.
No geral, afirmam as agências de turismo, a radiação ionizante recebida ao longo de um dia dentro da área de exclusão é a mesma de um voo entre EUA e Europa.

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